A criatividade é entendida, nos dicionários, como um substantivo feminino com origem no latim creare, ou seja, a capacidade de criar, produzir ou inventar coisas novas. Ações que são pertinentes e possíveis a qualquer ser humano, em qualquer lugar do mundo, vivendo inúmeras situações distintas. Isso nos faz refletir que não existem pessoas que nascem criativas, mas sim que todos nascem com um potencial criativo. É isto que vamos desmistificar nesse texto, explicando um pouco mais sobre a criatividade, como explorá-la e identificá-la, além de dicas para que você consiga desenvolver seu lado criativo.
O conceito apresentado inicialmente acerca do que é “criatividade” não é o único no mundo, uma vez que não existe uma definição correta para esse termo. Há muita subjetividade na palavra: para Ghiselin (1952), ela "é o processo de mudança, de desenvolvimento, de evolução na organização da vida subjetiva", enquanto Flieger (1978) afirma que temos criatividade "quando manipulamos símbolos ou objetos externos para produzir um evento incomum para nós ou para nosso meio". E essas definições, por mais complexas que sejam, são apresentadas no nosso cotidiano a todo momento, uma vez que estamos sempre frente a frente a problemas que exigem nosso esforço para serem solucionados: como encontrar um trajeto mais rápido do que o mostrado pelo Google Maps, combinar temperos para uma comida sem seguir uma receita, ou até mesmo usar uma peça de roupa de uma forma que ela não foi feita para ser usada.
O processo criativo é aflorado a partir de três ações imperceptíveis no nosso dia a dia, sendo elas: o dar atenção, ou seja, quando o individuo percebe uma situação problema ou situação oportunidade; em seguida, o fugir, em que esse sujeito abre a sua mente para novas conexões e sai da sua realidade; e finalizando com o mover, em que a pessoa irá explorar sua imaginação, gerando novas ideias e conclusões. Para explorar esse processo, existem métodos que você pode seguir e assim expandir o seu pensamento, como o SCAMPER ou a Estratégia Disney.
O primeiro método é explicado por suas próprias letras: Substituir: o que acontece ao trocar um item X pelo Y? / Combinar: o que surge ao unir o projeto X ao projeto Y? / Adaptar: o que pode ser mudado que torne o projeto útil para outro propósito? / Modificar: o que é possível modificar para que esse projeto possua mais valor? / Procurar usos diferentes: qual utilidade nova esse projeto pode ter? / Eliminar: o que pode ser retirado do projeto para que ele fique mais simples ou útil? / Reorganizar: como o projeto pode ser rearranjado para ser mais eficiente? Seguindo cada uma das letras, é possível ter uma visão ampla e completa do que forma a sua ideia e do potencial da mesma.
Já o segundo método é uma técnica de Programação Neurolinguística (PNL) utilizada pela The Walt Disney Company, que consiste em submeter um tema à interpretação de pessoas com perfis distintos, sendo eles: o sonhador, o realista e o crítico. Quando uma ideia ou projeto é apresentada a essa primeira personalidade, é necessário que você a veja da forma mais ousada que puder, sem limitações, preconceitos ou julgamentos, dando asas à sua imaginação. Já pelo entendimento do realista, você analisará esse produto com os pés no chão, considerando o que é possível e realizável no projeto e ponderando quais ações são ou não necessárias para chegar ao resultado desejado. Por fim, através do olhar do último perfil, explore o seu lado pessimista e pontue todas as dificuldades, objeções e chances de erro, desconstruindo seu projeto para depois reconstruí-lo novamente. Cada uma dessas perspectivas revelará aspectos positivos e negativos sobre a sua ideia e, a partir daí, será possível montar um plano que seja quase perfeito para o que você precisa desenvolver.
Caso você ainda não tenha se convencido de que expressar criatividade é possível para qualquer um, talvez seja porque você está usando apenas um referencial de “criativo”. No entanto, segundo o neurocientista Arne Dietrich, existem quatro tipos de criatividade que podem caracterizar os indivíduos: deliberada e cognitiva, deliberada e emocional, espontânea e cognitiva e espontânea e emocional. O primeiro tipo diz respeito àquelas pessoas que fazem muitas pesquisas antes de começar uma produção e são capazes de formular várias combinações, já que possuem muito conhecimento a respeito do que precisa ser desenvolvido e resolvido. Por essa razão, este é um tipo de criatividade que exige alto conhecimento e tempo para testes, escolhas e caminhos a serem seguidos. Já no segundo modo, o estudo é deixado de lado para dar destaque ao lado emocional, no que se sente e como se percebe cada situação. Os sujeitos agem assim de forma deliberada, desapegando de dados, padrões e atributos racionais e dando foco para a subjetividade e as experiências pessoais. No que diz respeito ao terceiro estilo criativo, tem-se muito mais liberdade e desapego, por conta da espontaneidade. É necessário um tempo longe do seu projeto para absorver ideias que possam estar ao seu redor, advindos do ócio criativo. Por fim, com o último tipo, há ainda o apego da espontaneidade, porém quando ela provém de experiências pessoais e do interior da pessoa, como se fosse uma ideia vinda “do nada”.
Essas divisões corroboram com a existência de diversas formas de se entender a criatividade e percebê-la nas pessoas ao seu redor, além de ajudar a desmistificar diversas afirmações. Uma delas é a de que a criatividade é um dom, o que não é verdade, já que ela pode ser bloqueada ou desenvolvida a qualquer momento, em qualquer pessoa, pois é considerada muito mais como um modo de entender o mundo e a vida do que um fator gênico ou milagre. Por isso mesmo, para ser criativo também não é necessário ser genial, mas sim utilizar seus aprendizados, conhecimentos e vivências para solucionar problemas e resolver situações, o que não é sinônimo de inteligência. Ainda, é mito que a criatividade está restrita a algumas áreas, pois muitas vezes a relacionamos apenas com artes, ciências humanas ou inovação, mas ela está presente em qualquer ambiente e qualquer setor tem a necessidade de que as pessoas pensem fora da caixa.
Para estimular o seu lado criativo e todas as suas potencialidades, aqui vão algumas dicas:
Leia muito: sempre e de tudo um pouco, especialmente sobre assuntos que você não possui muito domínio. Por meio da leitura, expandimos nossos horizontes e entramos em contatos com diversas realidades.
Não tenha medo de errar: explore o desconhecido, tente diversas vezes, transforme o entendimento do erro como aprendizado e evolução para uma versão aprimorada da sua ideia.
Faça algo novo, sempre: assim, a sua mente estará em contato diário com novos desafios, ideias, estilos e pensamentos.
Aja: coloque em prática aquilo que você tem em mente, postergando ao mínimo para ver a sua ideia em ação e entender se ela servirá para seu propósito ou não.
Realize brainstorms: seja sozinho ou em grupo, uma enxurrada de ideias dispersas pode trazer à tona a ideia que você tanto busca.
Vá a centros criativos ou ambientes culturais: são locais que pedem por criatividade e pessoas que queiram desenvolvê-la, colaborando para que você também se sinta mais envolvido com seu lado criativo.
Tenha um caderno amigo: não importa se ele é literalmente um caderno ou o seu próprio celular, mas esteja sempre pronto para usá-lo para anotar! Assim, você não corre o risco de esquecer todas as suas ideias ou quaisquer fragmentos que possam servir para um projeto quando forem melhor elaborados.
Misture: experimente novas combinações e junte aquilo que você acha que não tem potencial, pois essas misturas podem resultar em algo incrível e original.
Peça feedback: compartilhe seu projeto com pessoas que entendem um pouco do assunto e receba criticas de modo a adaptar a sua ideia para melhor.
Descanse: a nossa mente também precisa de férias! Por isso, não exija muito de você e perceba o momento de tirar uma pausa para dormir, tomar uma água ou se distrair do modo que você mais gosta.
Ainda, é importante também estar rodeado de referências criativas, desde pessoas, até livros, filmes ou lugares, como museus ou coletivos culturais. Sempre busque por pessoas que podem ser referências criativas, como a Nath Araujo, ilustradora que transforma sua arte em negócio, e também usa disso para alimentar o seu canal no YouTube, que está recheado de dicas de como desenhar, com técnicas e maneiras diferentes de colocar a sua ideia no papel. Ela também mostra como é possível usar um tipo de arte, como seus desenhos, de um modo criativo em outras formas, como capas de caderno, adesivos, bottons, entre outros.
A Valentinas, desenvolvida pela Joyce Bandeira, também é uma ótima referência de criatividade, tida como “uma iniciativa de aprendizagem colaborativa criada para promover conhecimento, cultura, convivência e entretenimento entre mulheres", com o principal objetivo de incentivar a criatividade, promover experiências e fomentar o empreendedorismo feminino, por meio de cursos e oficinas. Inclusive, nós da Criative Jr. trouxemos a Joyce para dar uma palestra em nosso evento, o Rocket Jr. 2019! Confira mais sobre o evento e saiba tudo o que rolou nesse dia clicando aqui.
Além dessas duas mulheres incríveis, nós da Cria recomendamos que você conheça a Julia Cameron, autora do que é considerado a bíblia da criatividade: "O Caminho do Artista”, um livro que reúne, em um programa de 12 semanas, diversos exercícios, reflexões e ferramentas que darão suporte para o indivíduo despertar e desenvolver a sua criatividade.
Entretanto, não se restrinja a essas referências! A todo momento devemos estar em busca de possíveis gatilhos criativos. Afinal, como vimos, a criatividade é oposta a qualquer tipo de limitação. Por isso, não se limite e pense fora da caixa. Floresça o seu potencial criativo!
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